Dia dos pais, sem pai.

Acho que essa é a primeira vez que eu escrevo sobre meu pai depois da separação entre ele e minha mãe. Pra ser mais sincera, essa é a primeira vez que conto a alguém de fora da família ou amigos sobre o meu trauma de infância, ou escrevo. Não é um trauma sobre cair da bicicleta ou perder a mãe no supermercado quando era criança, nada a ver, mas o trauma que me fez crescer antes do tempo, o trauma que me fez crescer e me tornar adulta muito cedo, o trauma que me mudou, o trauma que até hoje me faz chorar nas noites frias quando me lembro de tudo. Como é mais um dia dos pais que vou passar sem ele, vou contar a vocês como tudo aconteceu.

Um pouco de tudo.

Eu era uma garotinha normal, daquelas que o pai tinha ciúmes até se ela tivesse amigos, aquela que tinha o pai mais bobo e carinhoso do mundo que não deixava a filha ir brincar na rua com os amigos por medo de que ela caísse e se machucasse, essa era eu. Meu pai era meu ídolo número um, era o super pai. Aprendi a não ter medo de animais, insetos ou coisas do tipo com ele, com exceção de aranhas porque tenho aracnofobia desde pequena. Ele sempre me mimava e fazia tudo que eu queria, mas claro, sempre me colocava limites. Eu desde pequena amava escrever, me lembro que ele sentia orgulho disso e falava que eu seria uma grande escritora quando crescesse, esse era meu pai. Eu o via muito pouco durante a semana, pois eu estudava pela manhã e logo cedo ia dormir, enquanto ele chegava muito tarde do trabalho, mas sempre quando chegava minha mãe falava que ele ia no meu quarto e do meu irmão e nos dava um beijo. Aprendi a amar animais com ele, e aprendi um pouco de tudo que sou, penso e gosto com ele. Meu pai era muito brincalhão, amava brincar comigo e com meu irmão, ou cantar no karaokê que tínhamos. Aprendi a gostar de rock por causa dele.

Quando tudo começou a mudar.

Minha família era feita de paz, amor e carinho. Meus pais nunca brigavam, pelo menos nunca na minha frente ou do meu irmão. Tínhamos, digamos que uma família perfeita que todos admiravam. Quando fiz meus oito anos e uns seis meses, meus pais passaram a discutir e brigar frequentemente, quase toda noite brigavam e discutiam. Eu era muito pequena, mas me lembro de todas as brigas que eles tinham, e os motivos. Foi ali que tudo começou a mudar. Meus pais viviam brigando, e eu e meu irmão que ficávamos triste com tudo isso. 

Como tudo aconteceu.

Meu pai, minha mãe e minha família já não era a mesma de antes. Meu aniversário era no dia 28 de setembro, e tudo começou a acontecer ás 23h00. Minha mãe me contou como tudo ocorreu, ele chegou e do nada começou a discutir com ela e falou que não iria mais morar conosco, estava se separando dela. Eu e meu irmão estávamos dormindo, não acordamos ou escutamos nada. Na manhã seguinte era meu aniversário e quando acordei, meus pais haviam se separado.

O grande trauma.

Acho que foi a pior coisa da minha vida, acordar e receber a notícia de que no meu aniversário, meus pais haviam se separado. Exatamente no dia em que era para eu ficar feliz, é até hoje o pior dia da minha vida. Hoje, nada nem ninguém consegue mudar isso. Nem festas, família, amigos, namorado, nada consegue mudar a dor e a tristeza que sinto quando chega meu aniversário. Até hoje me pergunto: "Porque logo no meu aniversário isso teve que acontecer?". Foi ai que comecei a mudar, e hoje sou quem sou.

Dia dos pais, sem pai.

Depois da separação dos meus pais, minha relação com meu pai nunca mais foi a mesma. Ah, ele não morreu que fique bem claro, mas pra mim é como se ele estivesse morrido sim. Pouco nos vemos, e ele nem ao menos sabe quantos anos tenho, ou quantos anos meu irmão tem. Acho que nos vemos umas duas ou três vezes no ano, e sim, meu pai é rico e mora perto de mim. Esse é mais um dia dos pais que vou passar sem ele, que vou chorar, que vou lembrar de tudo e me lembrar de quem ele um dia foi e significou pra mim, mas um dia isso passa.

Sobre mim.

Isso foi um dos motivos que me fizeram mudar, mas eu tenho sempre mostrar para todo mundo que não sinto a falta dele, mas é impossível, sempre vem aquelas lembranças que te fazem sentir a falta, mas a vida segue. Eu sei que assim como eu, todos os adolescentes ou adultos que os pais se separaram e tudo se tornou uma grande divisão, se sentem assim como eu. Não é fácil, mas a vida segue. Por isso sempre procuro olhar para o futuro, um dia quem sabe essa dor passa né ?